Reduzir, reutilizar, reciclar. São essas três palavras que regem a cadeia da sustentabilidade. A ampla divulgação do termo trouxe à tona a discussão sobre a consciência ambiental e a destinação do lixo em todo o mundo. No entanto, Belo Horizonte ainda passa por problemas quando se trata da coleta seletiva, já que somente 36 dos 487 bairros são atendidos por esse serviço.
A coleta seletiva é um processo que se baseia na separação e recolhimento dos resíduos descartados por moradores da cidade. Apesar de existir desde 1993 na capital, somente 15% da população é atendida. Atualmente, a coleta ocorre em duas modalidades: ponto a ponto, na qual a pessoa deve colocar o seu lixo reciclável nos 70 contêineres específicos disponíveis na cidade de BH (conhecidos como Locais de Entrega Voluntária – LEVs); e porta a porta, em que o caminhão da prefeitura recolhe os recicláveis em cada residência.
O serviço prestado pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) atende, hoje, 125 mil domicílios da capital mineira, beneficiando 390 mil belo-horizontinos. De acordo com a diretora de Gestão e Planejamento da SLU, Patrícia de Castro, há um plano de ampliação de atendimento para 10 bairros ainda este ano. “O intuito é que se diminua a modalidade porta a porta e a coleta seja voltada para os containers (ponto a ponto), assim como nos países desenvolvidos”, afirmou.
Vale ressaltar que nenhum bairro de Venda Nova, Norte e Noroeste é atendido – na Pampulha, por exemplo, apenas São Luiz tem o apoio do caminhão. Conforme Patrícia, devido ao alto custo do porta a porta, ele só é realizado de acordo com o índice populacional dos bairros. Ela pontua que a Prefeitura de Belo Horizonte está com um processo de licitação de R$14 milhões e 800 mil do Fundo Municipal de Saneamento para a construção e reforma de galpões de triagem de materiais recicláveis, aquisição de 500 contêineres fechados para papel, metal, plástico e vidro. A previsão de instalá-los até o final de 2018.
A coleta domiciliar (porta a porta) nas ocupações ainda é limitada. Essas áreas sofrem com desafios para receber a prestação do serviço. Patrícia informou que a SLU tem feito um árduo trabalho junto às essas áreas. “Há um problema da falta do sistema viário, dificultando a chegada dos caminhões, mas temos colocado cestos de lixo e a ocupação da Izidora já é atendida e organizada”, contou.
O lixo em números
– 500 toneladas de entulho e terra, por dia (71 caminhões cheios, por dia); |
– 1.900 toneladas de resíduos domiciliares, por dia (271 caminhões cheios, por dia); |
– 230 toneladas de resíduos de deposição clandestina, por dia (32 caminhões cheios, por dia); |
– 50 toneladas de resíduos de varrição, por dia (7 caminhões cheios, por dia). |
Fonte: Estatísticas SLU |
O atendimento da coleta seletiva para toda a população deve ter um custo de até R$ 115 milhões anuais e só deve ser alcançada em 2036, como consta no Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Belo Horizonte (PMGIRS-BH), lançado em março deste ano pela Superintendência da SLU.
O Plano
A estrutura da coleta seletiva de Belo Horizonte foi reformulada, após atrasos no cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), criado em 2010 pelo governo federal (Lei nº 12.305/2010). O Plano monta um planejamento estratégico de 20 anos, o qual inclui desde a geração até a disposição final dos resíduos sólidos municipais, observando aspectos técnicos, operacionais, econômicos, sociais, ambientais e de participação da população.
Um dos pontos principais do programa, no que se refere à população, é justamente para que todos criem meios sustentáveis para dar um fim aos rejeitos. “O cidadão tem sua responsabilidade na educação ambiental. Há uma baixa adesão das pessoas com a coleta seletiva, por isso, a SLU investe permanentemente na mobilização social”, disse a diretora de Gestão e Planejamento da SLU.
Além de resíduos domiciliares, outros segmentos também são abordados no Plano Municipal, como industrial, o da construção civil e o de serviços de saúde.
As cooperativas
“A vida me fez um papelão e eu fiz do papelão a minha vida”, essa frase anônima está escrita na parede de um viaduto em Belo Horizonte e expressa a importância dos catadores na cidade. Contribuir com a reciclagem é também ajudar muitas pessoas que trabalham com coletas. Na capital há sete cooperativas de recolhimento de material reciclável.
Não há um censo específico sobre o número de catadores atuando na capital, mas estima-se que mais de 5.000 pessoas vivem desta atividade. Como informou o diretor do Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável – INSEA, Luciano Marcos da Silva, com o crescente número de desempregados este percentual vem aumentando, pois é uma das primeiras funções que as pessoas fazem para garantir a sobrevivência.
“Há uma estabilidade no atual número de catadores e catadoras organizados. Este número poderia crescer consideravelmente caso houvesse ampliação do sistema de coleta seletiva e investimentos no setor. Estas limitações esbarram nas limitações das estruturas existentes das associações e cooperativas para a questão da renda e aumento dos postos de trabalho”, declarou Luciano.
Além de destinar socialmente o material recolhido na coleta seletiva para as associações e cooperativas, a SLU também providencia estruturas como pagamento de aluguel e reforma de galpões.
Entretanto, para o diretor da Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável – Asmare, Alfredo de Souza, há um problema de infraestrutura do galpão e de um auxílio que eles recebiam de R$60 mil da prefeitura antes da gestão do ex-prefeito Márcio Lacerda. “Como não temos dinheiro para investimento tecnológico, o maquinário para a reciclagem está obsoleto, prejudicando todo nosso trabalho”, garantiu.
Já para Marcos Antônio Elias, diretor da Coopersol Leste, o problema da instituição tem relação com a venda do material reciclado. “O valor de cada matéria prima oscila demais e temos que pagar os impostos e encargos, o que nos atrapalha investir”, disse.
O Insea, organização não governamental voltado na criação e no desenvolvimento de modelos de gestão ambiental tendo como pressuposto básico a inclusão social, afirma que as dificuldades das associações são o não reconhecimento pelos serviços ambientais prestados na cidade para a limpeza urbana, ausência de programas de educação ambiental, ampliação dos sistemas de coleta e a ausência de investimentos na cadeia da reciclagem como solução técnica para a gestão dos resíduos urbanos.
Luciano ressaltou que os catadores normalmente priorizam o material que pode ser reciclado e vendido, todavia, muitos desses materiais que chegam não têm mercados para reciclagem, como tipos de plásticos, isopor, componentes de eletroeletrônicos, entre outros. “Faltam no estado de Minas Gerais políticas de incentivo a indústria da reciclagem e grande parte do que conseguimos coletar são destinados para outros estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina. Vale lembrar que do potencial de 30% do que é possível reciclar, Belo Horizonte só consegue coletar 1,08%”, relatou.